sábado, 14 de julho de 2018

Sangue



O sangue é um tipo de tecido conjuntivo líquido que circula por todo o sistema vascular formado por células. Este armazenado em um compartimento fechado, o aparelho circulatório, que o mantém em movimento regular, em uma única direção, devido principalmente às contrações rítmicas do coração. O mesmo exerce funções fundamentais no organismo dentre elas: transportar oxigênio, nutrientes, hormônios, eletrólitos e água para as células e remover excretas e gás carbônico das mesmas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; COMARCK, 2001).

O sangue contém as hemácias (glóbulos vermelhos) ou eritrócitos, os glóbulos brancos ou leucócitos e fragmentos citoplasmáticos conhecidos como plaquetas sanguíneas; componentes que estão livres e suspensos no plasma, à porção líquida do sangue (Figura 1). Apesar do sangue não produzir matriz extracelular é considerado um tecido conjuntivo especial, porque suas células desenvolvem-se a partir do mesênquima, tecido conjuntivo do embrião (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; COMARCK, 2001).


Figura 1. Representação esquemática dos principais componentes do sangue. (Fonte: Enciclopédia britânica Inc., 2006).

O plasma é uma solução aquosa constituída de substâncias de pequeno e elevado peso molecular, que correspondem a 10% do seu volume. As proteínas plasmáticas correspondem a 7% e os sais inorgânicos, a 0,9% o restante é formado por diversos compostos orgânicos como: aminoácidos, vitaminas, hormônios e glicose. Seus componentes de baixo peso molecular estão em equilíbrio, através das paredes dos capilares e das vênulas, com o líquido intersticial dos tecidos. Por isso, a composição do plasma é um indicador da composição do líquido extracelular (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; TORTORA, Gerard et al. 2012).

As principais proteínas presentes no plasma são: albumina, a mais abundante entre elas, cujas funções são: reserva, equilíbrio osmótico e transporte de algumas substâncias, produzida pelo fígado; fibrinogênio, relacionada ao processo de coagulação sanguínea, também produzida pelo fígado; imunoglobulinas ou anticorpos, relacionadas ao mecanismo de defesa corporal, produzidas pelos plasmócitos. O termo soro é utilizado para designar o plasma sem fibrinogênio. Nesse caso, o plasma perde a capacidade de coagulação sanguínea, facilitando-lhe o armazenamento em bancos de sangue (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; TORTORA, Gerard et al, 2012).
      Os elementos celulares sanguíneos – eritrócitos, leucócitos e plaquetas, originam-se de uma célula-tronco pluripotente. As células-tronco embrionárias estão presentes no saco vitelínico durante o período de desenvolvimento do embrião. Designada hemangioblastos, ou seja, células capazes de dar origem a vasos sanguíneos (angioblastos) e a célula do sangue, ou células hematopoéticas. Numa fase posterior, estas últimas caem na circulação e instalam-se no fígado, no início do período fetal da hematopoese e depois no baço e na medula óssea. Essa fase divide-se em três períodos: (1) período embrionário, inicia-se entre a quinta e a sétima semana de vida do embrião; (2) período hepatoeplênico, vai do quarto ao sexto mês, e (3) período medular. Após estes períodos a hematopoese tem lugar apenas na porção esponjosa dos ossos (LORENZI, T. F. Hematologia, 2006).

Os eritrócitos ou hemácias são as células mais numerosas do sangue tendo a sua principal função o transporte de oxigênio e gás carbônico (Figura 2). O transporte dos gases é feito pela hemoglobina, por meio de ligações químicas. As hemácias contêm a enzima anidrase carbônica, que acelera a reação da água com o dióxido de carbono, para a eliminação pelos pulmões. A hemoglobina também funciona como um sistema de tampão adicional no restabelecimento do equilíbrio ácido-básico do organismo. As hemácias são células anucleadas e tem a forma de um disco bicôncavo, com um excesso de membrana, em relação ao conteúdo celular. A membrana em excesso permite à hemácia alterar a sua forma na passagem pelos capilares, sem sofrer distensão ou ruptura. A forma bicôncava da hemácia permite a existência de uma grande superfície de difusão, em relação ao seu tamanho e volume. A hemácia circulante anucleada, seu diâmetro médio é de aproximadamente 8 µ e a espessura é de 2 µ na periferia e cerca de 1 µ na sua porção central. A quantidade de hemácias no sangue varia com o sexo. No homem adulto normal, sua concentração é de aproximadamente 5.200.000 por mililitro de sangue, enquanto na mulher normal é de 4.800.000 (LAURALEE, S. Fisiologia, 2011; JUNQUEIRA L. C. et al, 2013).

                  
Figura 2. Microscopia eletrônica de varredura de hemácias no interior de um vaso do tendão calcâneo de rato. Fonte: Imagem de autoria de Diego Pulzatto Cury e premiada no III concurso de imagens em Ciências da vida do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Os leucócitos, também são chamados de glóbulos brancos, são as principais células de defesa do organismo (Figura 3). Existem duas categorias de leucócitos: granulócitos e agranulócitos (TONTORA; DERRICKSON, Anatomia, 2012). Os granulócitos têm núcleo de forma irregular e ao microscópio eletrônico, mostram no citoplasma grânulos específicos que aparecem envoltos por membrana, de acordo com a afinidade tintorial dos grânulos específicos, distinguem-se três tipos: neutrófilos, eosinófilos e basófilos. O núcleo dos agranulócitos tem forma mais regular e o citoplasma não tem granulações, há dois tipos: os linfócitos e os monócitos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; COMARCK D.H. 2003).

 
Figura 3. Tipos de leucócitos. Fonte: Imagem obtida em www.nurselabs.com em 14/07/2018.

Os neutrófilos são células de formato ameboide que agem contra bactérias através de processos de fagocitose, são as células de defesa mais abundantes, são as primeiras a chegar ao local da infecção. Durante sua atividade, neutrófilos e bactérias em grande quantidade acabam morrendo, a mistura entre os dois forma o pus; o leucócito morto já em decomposição é chamado de piócito. Os neutrófilos ao se esgotarem, costumam se suicidar por autólise, quando rompem as suas membranas lisossômicas. Estas enzimas se espalham nas áreas infectadas, matando também um grande número de bactérias (TORTORA; et al. Anatomia, 2012; LAURALEE S. 2011).

Os eosinófilos são células com a função de eliminação de parasitas, como protozoários e vermes. Tanto a proteína catiônica quanto a proteína básica principal tem atividades antibacteriana e antiparasitária. A peroxidase esta envolvida na geração de espécies reativas de oxigênio, um mecanismo importante de defesa. No entanto, essas proteínas quando liberadas são também capazes de promover dano tecidual (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013; COMARCK D. H. 2003).

Os basófilos são células com a função de produção e acúmulo de mediadores da inflamação, principalmente a histamina, relacionada ao processo alérgico. São os leucócitos menos abundantes do sangue, correspondem a cerca de 0,5 a 1% dos mesmos (TORTORA; DERRICKSON, 2012; GANTNER et al. 2007).

Os monócitos são células que agem contra bactérias através de processos de fagocitose. Tem a melhor capacidade fagocítica do organismo; capazes de reconhecer o agente agressor e combatê-lo da melhor maneira possível. Além disso, secretam quimiocinas que atraem outros leucócitos. Correspondem cerca de 3 a 8% dos leucócitos do sangue (TORTORA; DERRICKSON, 2012; JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Os linfócitos são células esféricas com núcleo grande ocupando quase todo o citoplasma. São dois os tipos, T e B. Os linfócitos T e B estão presentes no sangue circulante em porcentagem que varia de 20% a 30%. Originam-se de células indiferenciadas situadas na medula óssea e no timo, passando por poucas fases intermediarias de amadurecimento, são semelhantes morfologicamente, mas diferem funcionalmente. Aquelas que se originam na medula óssea são denominadas linfócitos B e os que se formam no timo linfócitos T, ou timo-dependentes. Os linfócitos T são encarregados da função de imunidade celular, e os linfócitos B se encarregam da imunidade humoral, ou seja, são produtores de anticorpos. Essas células compõem o sistema imune, atuando na resposta á invasão do organismo por agentes estranhos, ou antígenos invasores (LORENZI T. Hematologia, 2006; TORTORA et al. 2007; JUNQUEIRA et al. 2013).



      Por último temos as plaquetas, que são fragmentos de células gigantes, os megacariócitos, formam-se na medula óssea (Figura 4). Elas mostram o formato de discos diminutos arredondados, e na realidade, não representam células e sim corpúsculos celulares. Os megacariócitos têm partículas em plaquetas, que são liberadas na circulação sanguínea. As plaquetas são anucleadas; seu diâmetro médio é de 1,5 µm e a espessura varia de 0,5 a 1 µm. As plaquetas são de grande importância nos processos de homeostasia e coagulação do sangue. Durante a lesão do endotélio de um vaso sanguíneo, as plaquetas são impulsionadas a aderir ao local da lesão e ligam-se umas às outras. Ao mesmo tempo liberam substâncias que ativam outras plaquetas possibilitando a formação de grumos plaquetários, que bloqueiam o local da lesão do vaso e, em última análise, possibilita a interrupção da perda sanguínea. Essa é a principal função das plaquetas no fenômeno de hemostasia. Além disso, as plaquetas participam ativamente da cascata da coagulação do sangue, liberando várias proteínas e lipoproteínas que ativam alguns fatores de coagulação (JUNQUEIRA; CARNEIRO).

Figura 6. Megarócito.  Fonte: biomedicinapadrao.com.br.
, 2013; COMARCK D. H. 2003).



Figura 4. Megacariócito sofrendo brotamento e dando origem as plaquetas. Fonte: Desconhecida.

REFERÊNCIAS

REVISTA ÉPOCA – Edição 214, 24 de junho de 2002. Americanos encontram células adultas que dão origem a qualquer outra. Disponível em: Link: http://epoca.globo.com/nd/20020623ct_e.htm
VIGORITO, AC; SOUZA, CA. Transplante de células-tronco hematopoéticas e a regeneração da hematopoese. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. v.2009.
TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 8 ed. Porto, 2012.
JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: Texto & Atlas. Ed. Guanabara Koogan, 2013.
CORMACK, David H. Fundamentos de Histologia: 2 edição. Ed. Guanabara Koogan, 2001.
THEREZINHA, Ferreira. L. Atlas de Hematologia: Clínica hematológica ilustrada. Ed. Guanabara Koogan, 2006.
GANTNER, Leslie P.; HIATT. Tratado de Histologia em cores: tradução 3 edição. Ed. Elsevier 2007.
JUNQUEIRA, L. C.: CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular. Ed. Saraiva, 8 edição, 2005.
E-book: AUGUSTO, S. Rodrigo; Anatomia básica: Morfologia funcional perda de sangue. Medbook LTDA.


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